Fundada em 22/10/2009, a Academia Areia-branquense de
Letras perdeu um dos seus membros mais ilustres. Morreu no sábado, 24-10-2012,
de parada cardíaca, o professor José Jaime Rolim (foto), 69 anos,
vice-presidente da instituição, ocupante da cadeira nº 2. Dois dias anteriores
à sua morte ele fora submetido a um cateterismo, em Natal, e encontrava-se em
recuperação quando veio a óbito. O sepultamento ocorreu ontem, 25, às 17h, no
Cemitério São Sebastião.
Considerado uma verdadeira “biblioteca ambulante”, devido ao
vasto conhecimento acumulado nas diversas áreas, como a política e a educação,
José Jaime era um profundo conhecedor da história do município e sabia muito da
árvore genealógica dos areia-branquenses.
Na sua trajetória, José Jaime construiu um currículo invejável.
Exerceu seis mandatos de vereador, foi duas vezes presidente da Câmara
Municipal de Areia Branca e foi prefeito por um período de 10 dias. Foi, ainda,
professor e diretor da antiga Escola Técnica Comercial (hoje Escola Municipal
Professora Geralda Cruz), pesquisador, historiador, escritor e amante da boa
poesia, além de ter desenvolvido atividades na Liga Desportiva Areia-branquense
(LDA). Culto, era conhecedor da cultura afro-brasileira e praticante da
religião demandada desse movimento originado no Brasil com a chegada dos
negros, escravos vindos da África.
Em 2002, o Editor deste Blog publicou no jornal O Mossoroense uma reportagem sobre uma das
façanhas de José Jaime, que escrevera um livro inteiro, “Recordações de Areia
Branca” sobre apelidos. De “A” a “Z”. Para recordar esse bom momento do saudoso
professor, segue a matéria na íntegra. Leia.
Apelidos que passam de pai para filho
Identificar uma pessoa pelo nome verdadeiro nas comunidades
interioranas, não é tarefa fácil. Geralmente até o vizinho conhece o outro pelo
apelido, nunca pelo nome recebido na pia batismal. A grande maioria tem uma
alcunha com que carinhosamente é mais conhecida em suas cidades.
Em Areia Branca, por exemplo, os apelidos predominam e passam de
pai para filho. Uma hereditariedade que enriquece o cotidiano de uma cidade
cuja origem de muitas alcunhas está ligada diretamente à vida marítima. Quem
lida com o mar, geralmente atende por um outro nome, que não tem nada a ver com
o registro de nascimento.
Mas
quem entende mesmo de apelidos é o professor aposentado, ex-vereador e
pesquisador de fatos ligados ao passado e ao presente do município, José Jaime
Rolim. Em 1997 ele escreveu um livro inteiro, “Recordações de Areia Branca” (foto) sobre apelidos.
De “A” a “Z”. E das formas mais variadas, com nomes de frutas, animais, cores,
alimentos, religiosos, entre outras curiosidades.
O livro do professor José Jaime é o mais completo do gênero, em
se tratando de pessoas exclusivamente do dia a dia desta cidade. A pesquisa
feita pelo escritor foi primorosa e dá a nítida impressão que ele não deixou
ninguém de fora. A começar pela sua família. A mãe Ana de Souza Rolim era
carinhosamente chamada de “Nana”. A esposa Antonia de Lemos Filha, é
“Branquinha”. E por aí vai.
Na letra “A” José Jaime enumera mais de uma centena de pessoas
com apelidos os mais diversos. De “Alicate” a “Anjinho”. Na letra “B” o
pesquisador abrange um universo de personagens locais conhecidos através de
alcunhas: “Brexola”, “Berro Grosso”, “Bozoca”, “Boca Negra”, “Barrão”. Na letra
“C” segue outra variedade de apelidos: “Cueca”, “Chupa-Chupa”, “Chico Peidão”,
“Chico Bebe Mijo”, “Chico Priquito”, “Chico Veado”...
O mais interessante no livro de José Jaime, “Recordações de
Areia Branca”, são os apelidos com nomes curiosos de animais, como “Ciço Boi”,
“Manel da Cachorrinha”, “Macaco”, “Chico Preguiça”, “Burrego”. Com autoridades,
os destaques são para os apelidos “Cabo Ilo”, “Ciço Majó”, “Capitão da Barra”.
Com lugares: “Zé Mossoró”, “Chico Macau”, “Zé Pernambuquinho”, João do Mel”,
“Severina Patu”, “Zé de Grossos”.
Também há aqueles apelidos envolvendo o bonito e o feio.
Vejamos: “Lindeza”, “Feioso”, “Gracinha Elegante”, “Zé Bonitinho”, “Belinha”,
etc. Os religiosos: “Manel Padre”, “Antônio Sacristão”, “Manoel do Rosário”,
“Divino”, “Geraldo Milagre”, “Maria Caridade”, “Raimundo de Santa”, “Chico
Santeiro”. Apelidos com nomes de cores: “Chico Preto”, “Moreninha”, “Antonio
Encarnado”, “Violeta”. Nomes de alimentos: “Manel Bolacha”, “Zefa Rapadura”,
“Pé de Grude”, “Feijão de Corda”, “Manteiga”, “Carlinhos Beiju”, Chico dos
Queijos”.
José Jaime não esqueceu de enumerar os apelidos com nome de
peixes: “Vicente Baleia”, “Maria Espada”, “Pêdo Sirigado”, “Boca de Bagre”,
“Amaro Carapeba”, “Cangulinho”, “Toim Dentão”. Apelidos com nomes de temperos:
“Colorau”, “Manel Vinagre”, “Maninho Cebola”, “Cabeça de Alho”, “Cebolinha”.
Apelidos com frutas: “Raimundo Caju”, “Manga Azeda”, “Chico Melão”, “Ciço
Macaúba”. Com Fumos e congêneres: “Fumo Bom”, “Mariquinha Cachimbo”, “Charuto”,
“Brejeiro”, “Fumeiro”, Coxia”. Apelidos com batráquios: “Jia”, “Sapo Verde” e
“Caçote”.
Outras curiosidades contidas no livro de José Jaime, são os
apelidos com nome de flores, como “Rosinha” e “Violeta”. Os fogos de artifícios
também emprestaram suas denominações a muitos areia-branquenses, como “Zé
Chumbinho”, “Busca-Pé” e “Caramuru”. Com bebidas destaque para os conhecidos
“Chico do Vinho”, “Chico da Cachaça” e “Marcos Montila”. Com transportes: “Pêdo
Caminhão”, “Chico da Lambreta”, “Marinete”, “Carlinhos Motorzinho”. E também
apelidos com nome de insetos: “Vicente Besouro”, “João Barata”, “Piolho”,
“Mosquitinho”. E agora a vez das aves: “Passo de Ema”, “Chico das Galinhas”,
“Passarinho” e “Antonho do
Galo”.
Por último, o livro de José Jaime trás preciosidades como os
apelidos com números: “Duzentos”, “Zé Treze Anos”, “Duas de Cem”, e
“Cinqüentinha”. Com répteis: “Cobra”, “Maria Jararaca”, “Manel Lagartixa” e
“Pêdo Jacaré”. Com assombrações: “Tatico Diabo”, “Visão da Noite”, “Alma” e
“Cão”. E finalmente, apelidos com times de futebol: “Severina Bangu”, “Baraúna”,
“Oscar Flamengo”, “Ceará” e “João Gama”.
Uma observação feita pelo autor, é que todos os apelidos
contidos no livro foram escritos de acordo como são pronunciados e conhecidos,
mesmo que isso implique em erro de ortografia.
FONTE – AREIA BRANCA NEWS